domingo, 1 de novembro de 2009

................... TALHADOS PARA AMAR..................

TALHADOS PARA AMAR

1- Amar é…
A fonte da felicidade não é o dinheiro, nem o poder, nem o saber. A fonte da felicidade humana é o Amor.

Amar não é uma questão de intenções. O amor pressupõe a decisão de agir em benefício do outro. Amar implica a eleição do outro como alvo de bem-querer. Implica pedir perdão quando magoamos e perdoar quando somos magoados.

Amar implica estar presente nas horas difíceis, sobretudo quando o outro é incompreendido e humilhado. Amar é dar a mão ao mais fraco.

O amor tende sempre para a convergência e a reciprocidade. Assenta na cooperação fraterna e não na competência desleal que pretende suplantar o outro a qualquer preço.

Amar é ajudar o outro a gostar de si, valorizando as suas realizações e empenhamentos, mesmo quando não correspondem aos nossos interesses...

Amar é ajudar o outro a superar a solidão e ajudá-lo a suportar os fardos pesados com que a vida, por vezes, nos carrega. É também facilitar o amadurecimento do outro, dando-lhe oportunidades para que se realize com pessoa livre, consciente e responsável.

Amar não é nunca substituir. É ajudar sem se sobrepor. É também aprender a dar, mesmo que não receba em troca...

Amar é ajudar o outro a descobrir sentidos para o outro viver a vida de modo empenhado e feliz.
Amar é saber calar quando se está magoado, esperando o dia seguinte para dialogar serenamente.

Amar é acreditar nas palavras e na rectidão de intenção do outro.

Amar é escutar o outro sem fazer juízos morais, procurar entender bem o que ele me quer comunicar. É também não pretender que a minha opinião é a única válida.

Amar é saber caminhar para a convergência, confrontando as minhas opiniões com as do outro.

Amar é escolher como tema de conversa e passatempo assuntos queridos e do interesse dos outros. É estar atento e saber calar-se quando percebe que a nossa conversa está a cansar o outro.

Amar é reparar nas qualidades do outro e não girar obsessivamente em volta dos seus defeitos.
Amar é partilhar o que tenho e, sobretudo, o que sou. A disponibilidade para acolher e escutar é mais importante do que os presentes para nos libertarmos da presença do outro.

Amar é aceitar as diferenças, sabendo que estaria a impedir a felicidade do outro pretendendo que ele fosse uma cópia de mim mesmo.

Amar é ajudar o outro a descobrir as suas qualidades pessoais, condição para que ele se sinta válido e motivado para dar o melhor de si.

Ama mais quem dá o primeiro passo na linha da reconciliação. Foi assim que Deus agiu para connosco. Dar outra oportunidade é a expressão da verdadeira gratuidade amorosa.

Amar é alegrar-se com o sucesso do outro e deixar emergir o melhor que existe dentro dele mesmo que isso signifique que fica mais autónomo como pessoa única original e irrepetível.

Amar é não exigir demasiada disponibilidade do outro para connosco. É ser pontual e fazê-lo sentir de que não nos esquecemos da sua pessoa.

Amar é estar atento, a fim de verificar se outro está precisando de mim. Não basta pensar: “quando quiser que venha ter comigo”. Ama mais quem se antecipa, a fim de ser dom para o outro.

Amar é fazer o que está ao nosso alcance para que o outro não fique mais pobre e infeliz por se ter encontrado connosco.

Amar é deixar que o outro possa realizar o melhor das suas possibilidades mesmo que isso implique seguir rumos de que não gostamos muito.

Amar é estar disposto a morrer a muitos planos e gostos para dar ao outro a possibilidade de sentir amado e feliz.

Amar ao jeito de Cristo é koinonia, isto é comunhão amorosa assenta da doação gratuita e não apenas democracia e, muito menos, ditadura.

Jesus levou o amor até à sua expressão máxima: “Dar a vida pelo amigo”. O nosso amor será tanto mais perfeito quanto mais nos aproximarmos desta meta.

O amor é a única rocha firme sobre a qual podemos edificar de modo seguro a nossa casa.

2 - A Dinâmica do Amor


Nascemos para renascer. Apenas em calda de amor a pessoa se estrutura de modo equilibrado e fica capacitada para se humanizar.

A lei da humanização é: emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão amorosa universal.

Emergir como pessoa é crescer como densidade espiritual e capacidade de interacção amorosa.
Pela fé conhecemos o Amor em Plenitude: Deus. Graças à Revelação sabemos que Deus é família.

Antes de existir o Universo já existia o amor como dinâmica relacional de Comunhão Trinitária.

O Universo surgiu como acto amoroso desta família primordial. O amor deu origem à génese do Universo. Deus criou-nos, a fim de caminharmos para a plenitude do seu amor familiar.

Pela Fé conhecemos a amor como perfeição Infinita. Pela experiência conhecemos o amor em construção. A pessoa em realização é um processo de amorisação. Quando recusa avançar na sua humanização está a impedir a sua realização e a dificultar a dos outros.

As pessoas mal amadas são azedas e amam de modo distorcido. São vítimas, não culpadas. Muitas destas pessoas foram heróicas. Deram o melhor de si. Chegaram a um grau elevado de santidade. Mas isso não impede que tenham pessoas profundamente marcadas.

A comunhão universal é a plenitude deste processo de humanização. Dançaremos eternamente o ritmo do amor com o jeito que tivermos treinado aqui na história.

A Divindade é pessoas. A Humanidade, também. Deus salva o homem na medida em que este se realiza como pessoa. Será eternamente mais divina a pessoa que mais se tenha humanizado na história. Somos seres em construção. É agora o tempo de nos construirmos.

Estamos habitados pelo Espírito de Deus, que actua no nosso íntimo como intervenção especial de Deus na criação do Homem.

Deus está-nos criando por amor através do Espírito Santo que se serve de muitas mediações: pais, educadores, contexto social, religioso, a nossa consciência e a natureza.

Somos um projecto sonhado pelo amor. Por isso não fomos criados para a solidão ou o vazio da morte.

O Amor criou-nos e pelo amor nos salvamos. Amar é querer o melhor para os outros e ajudá-los a fazer o melhor para eles. É aceitá-los, apesar de serem diferentes de nós. Quem pretende substituir os outros não ama.

A pessoa é um ser em génese. Realizar-se como pessoa é construir uma história. Para se dizer precisa de contar a sua história. A pessoa com coração capaz de partilhar a salvação de Deus, estruturou-se mediante uma história de amor.

Em Cristo, o divino e o humano encontram-se organicamente unidos. O divino enxertou-se no humano, a fim deste ser divinizado.

Por ser amor, Deus toma-nos a sério e nunca nos substitui. O amor é uma dinâmica relacional que estrutura as pessoas e a comunhão entre elas. Ao mesmo tempo suscita possíveis, abrindo as portas para novas realidades.

Deus não criou as coisas acabadas. A Humanidade está no centro da criação por ser constituída por pessoas.

A divindade é pessoas, a Humanidade também. As pessoas humanas não são iguais às divinas mas são-lhe proporcionais. Por isso temos a possibilidade de pertencer à comunidade familiar da Santíssima Trindade.

Estamos chamados a ser colaboradores de Deus na nossa realização e salvação. A nossa vida será fecunda na medida em que seja dinamizada pelo amor. Com efeito, a fecundidade humana transcende a dimensão biológica.

O Amor dá-nos a possibilidade de renascermos. Nascemos para renascer. O nosso eu exterior, individual, bio-psíquico, não se confunde com o nosso eu interior, pessoal-espiritual. O eu exterior envelhece, gasta-se e degrada-se. O interior, pelo contrário, pode rejuvenescer sempre através do amor.

Quando uma pessoa tem uma infância infeliz, a sua história vai ficando marcada por vivências dolorosas e muitas experiências de desencontro.

Ser pessoa é ser um feixe dinâmico de energias espirituais constituídas em identidade única, original e irrepetível. A pessoa é um ser que apenas se possui plenamente em reciprocidade de comunhão amorosa.

A originalidade relacional da pessoa é o jeito com que dança o ritmo do amor.

Surgimos com um leque de possíveis. A realização destes possíveis depende de nós.

Os dons de Deus são-nos feitos em forma de possíveis, a fim de os podermos aceitar ou não. De outro modo não seriam dons mas imposições.

O Amor criou o Universo e gostou de o ter feito. Deus ama a sua Criação. Ao contemplar a obra criada, Deus gostou de a ter feito.

Por ter como origem um acto de amor criador, o Universo tem sentido e aponta para a plenitude do amor. Por isso no seu seio surgem pessoas humanas e talvez muitas outras que são imagem e semelhança das pessoas divinas.

O Cosmos seria uma aventura inútil se não oferecesse uma saída válida para a vida pessoal e amorosa. É certo que o Universo não é uma pessoa. Mas no seu interior surgiram biliões de pessoas, as quais pertencem, por adopção, à esfera da Comunhão Divina.

O sentido mais profundo da génese do Universo é possibilitar vida pessoal, proporcional a Deus e capaz de comunhão amorosa.

O Cosmos é como um imenso ovo fecundado em cuja interioridade vão germinando pintainhos: os seres com vida pessoal-espiritual. Germinam dentro do ovo, mas transcendem o mesmo ovo.

A meta mais nobre do ovo fecundado é possibilitar a existência dos pintainhos. Assim a meta mais nobre do Universo é possibilitar a emergência de pessoas, humanas ou outras, proporcionais ao próprio Deus.

A Encarnação ou enxerto do divino no Humano é a expressão maior de que o Universo está prenhe de sentido.

3 - O Amor Como Impulso de emergência Espiritual



A pessoa não nasce feita. A humanização do Homem supõe um segundo nascimento (cf. Jo 3, 3-6). O Universo é como um ovo gigante. O seu interior está cheio de possibilidade de vida. A marcha evolutiva da vida tem as impressões digitais de Deus. Por isso atinge a densidade pessoal: feixe de energias espirituais constituídas em identidade pessoal livre, consciente, responsável, única, original e capaz de comunhão amorosa.


A Bíblia afirma que Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26-27). Além de ser uma afirmação sobre o homem é também uma revelação da realidade de Deus. A humanidade é pessoas. A Divindade, também. Com efeito, Deus não podia ser menos de pessoa, pois criou-nos a nós como pessoas. Também não pode deixar de ser comunidade de pessoas, pois a pessoa apenas encontra a sua plenitude na dinâmica da comunhão.


A fé cristã afirma precisamente que Deus é uma comunidade de amor familiar. O coração da realidade é amor familiar. Deus é amor. O Amor é uma dinâmica relacional que constitui as pessoas e a comunhão entre elas. Ao mesmo tempo suscita possíveis ou saídas para novas realidades.

A experiência ensina-nos que uma pessoa isolada não está completa. Com efeito, a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão com os outros. A solidão é tanto maior quanto mais a pessoa estiver reduzida a si mesma. O malogro total da pessoa, segundo a nossa fé, é o estado de inferno. Este não é mais que a ausência total da presença dos outros. Estar no inferno é não ter ninguém para fazer uma festa.

A pessoa em estado de inferno não é uma perfeita imagem de Deus. Também não é uma pessoa perfeita. Com efeito, a pessoa perfeita não é nunca um ser reduzido a si. Só existe um Deus. Mas este é três pessoas em plenitude de comunhão.

A felicidade é sempre um estado em que acontece a experiência de relação fraterna e comunhão amorosa. Ser feliz é possuir-se e amar-se tal como a pessoa é. Ninguém pode ser feliz sem gostar de si. Mas isto só pode acontecer pela mediação dos outros. De facto, ninguém é capaz de gostar de si sem alguém o ter amado antes. Só nos estruturamos pessoalmente em dinâmica de reciprocidade. Os outros possibilitam a nossa realização. E nós, realizando-nos, possibilitamos a realização dos outros.

Só Deus confere sentido pleno à existência humana. É a garantia de sucesso eterno da nossa vida. A pessoa humana não é uma emanação de Deus. A Humanidade não é um prolongamento da Divindade. Mas a pessoa humana é templo de Deus. O mal que fazemos é Deus que o realiza.

Deus revela-se no ser humano: nas crianças como novidade permanente; nos jovens como fonte de ternura e reciprocidade amorosa. Nos adultos como capacidade de compreensão, tolerância e comunhão.

Pelo ac0ntecimento da morte, a pessoa humana entra nas coordenadas de Deus. Transpõe o limiar da vida definitiva. Saiu da espácio-temporalidade. É assumida na comunhão trinitária como membro da família divina.

No Reino de Deus, a pessoa comungará tanto mais profunda e plenamente quanto mais se tiver exercitado na vida de comunhão aqui na terra. Dançaremos eternamente o ritmo do amor com o jeito com que treinarmos agora na história.

O Espírito Santo é o vínculo orgânico da comunhão universal e da sua integração na comunhão divina. A dinâmica que faz a pessoa emergir como interioridade com identidade pessoal e capaz de comungar com Deus são as relações de amor.

O amor é fonte de libertação. À medida em que a pessoa cresce em comunhão, fortalecem-se os vínculos do amor, mas a interacção amorosa nunca oprime. Realmente a pessoa está em construção na história. Será eternamente segundo se tenha realizado no presente. Deste modo vemos como o essencial emerge do acidental, o nuclear do periférico e o eterno do histórico.

O espiritual emerge do material. O eterno do caduco. Mas o Criador de todas as coisas é uma realidade espiritual: Três pessoas em comunhão amorosa. Antes de existir o Universo material existia uma comunhão amorosa espiritual.

A Humanidade entrou na plenitude dos tempos com o acontecimento de Cristo. Pela dinâmica da Encarnação o divino enxerta-se no humano, a fim deste ser divinizado. O limoeiro frágil e carcomido pela ferrugem do pecado dava limões de péssima qualidade. Uma vez enxertado na laranjeira jovem e robusta recebe dela a seiva que o renova. A natureza do limoeiro não é anulada ou destruída, mas optimizada.

Como limoeiro que é, o ramo enxertado continua a dar limões. Mas estes, agora, são de excelente qualidade. A Encarnação acontece como união orgânica e interactiva da interioridade espiritual da pessoa divina do Filho Eterno de Deus com a interioridade espiritual de Jesus de Nazaré.

Graças ao facto de Jesus ser homem estamos organicamente unidos a ele. Por ele renascemos como membros da Família de Deus. À medida em que renascemos vamos sendo assumidos na família divina pelo Espírito Santo. Em Cristo e, pelo Espírito Santo, passamos a interagir organicamente com a comunidade Trinitária.
São Paulo diz que todos os que estão em Cristo uma nova criação (2 Cor 5, 17) E acrescenta que os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Deus filho (Rm 8, 14-16).

É possível renascer porque estamos enxertados em Cristo e dele nos vem a seiva da Vida Nova, isto é, o Espírito Santo. A assunção na família divina pelo vínculo orgânico e interactivo do Espírito Santo é a dinâmica da ressurreição de Cristo acontecer em nós. É aqui que se distingue a plenitude da Ressurreição da simples imortalidade.

Os que estão separados de Cristo são ramos que secam e não prestam mais o para a vida. Já não dão fruto (cf. Jo 15, 1-8). Os que estão em estado de inferno são imortais, mas não estão na plenitude dos ressuscitados com Cristo.

Podemos agora compreender como a nossa plenitude está em Deus e não no homem. No entanto, a plenitude da nossa salvação acontece pela mediação do homem Jesus Cristo. São Paulo diz que todas as coisas contribuem para o bem dos que amam a Deus (Rm 8, 28). Se estivermos unidos a Cristo tudo concorre para a nossa salvação.