segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

RESILIÊNCIA

RESILIÊNCIA

Professora Sandra Maia Farias Vasconcelos, Dr.

Há mais de quarenta anos, a ciência tem-se interrogado sobre o fato de que certas pessoas têm a capacidade de superar as piores situações, enquanto outras ficam presas nas malhas da infelicidade e da angústia que se abateram sobre elas como numa rede engodada.


Por que certos indivíduos são capazes de se levantar após um grande trauma e outros permanecem no chamado fundo do poço, incapazes de, mesmo sabendo não ter mais forças para cavar, subir tomando como apoio as paredes desse poço e continuar seu caminho?

As experiências e estudos feitos têm mostrado algumas explicações científicas sobre esse fato.

A biologia defende o ponto de vista de que cada ser humano é dotado de um potencial genético que o faz ser mais resistente que outros.

A psicologia, por sua vez, dá realce e importância das relações familiares, sobretudo na infância, que construirá nesse individuo a capacidade de suportar certas crises e de superá-las.

A sociologia vai fazer referência à influência do entorno, da cultura, das tradições como construtores dessa capacidade do individuo de suplantar as adversidades.

A teologia traz um aporte diferente pela própria subjetividade transcendente, uma visão outra da condição humana e da necessidade do sofrimento como fator de evolução espiritual: o célebre “dar a outra face”.

Mas foi o cotidiano das pessoas que passam por traumas, que realmente atravessam o vale das sombras, o que realmente atraiu a curiosidade de cientistas do mundo inteiro.

Não são personagens de ficção que se erguem após a grande queda; são homens, mulheres, crianças, velhos, o individuo comum do mundo que retoma sua vida após a morte de um filho, a perda de uma parte de seu corpo, a perda do emprego, doenças graves, físicas ou psíquicas, em si mesmo ou em alguém da família, razões suficientes para levar um individuo ao caos.

Esses que são capazes de continuar uma vida de qualidade, sem auto-punições, sem resignação destruidora, que renascem dos escombros, esses são seres resilientes.

A resiliência é um termo oriundo da física.

Trata-se da capacidade dos materiais de resistirem aos choques. Esse termo passou por um deslizamento em direção às ciências humanas e hoje representa a capacidade de um ser humano de sobreviver a um trauma, a resistência do individuo face às adversidades, não somente guiada por uma resistência física, mas pela visão positiva de reconstruir sua vida, a despeito de um entorno negativo, do estresse, das contrições sociais, que influenciam negativamente para seu retorno à vida. Assim, um dos fatores de resiliência é a capacidade do individuo de garantir sua integridade, mesmo nos momentos mais críticos.

Não se é resiliente sozinho, embora a resiliência seja íntima e pessoal. Um dos fatores de maior importância é o apoio e o acolhimento, feito em geral por um outro individuo, e essencial para o salto qualitativo que se dá.

Alguns autores nomearam essas pessoas: Flash chamou-o mentor de resiliência; Cyrulnik chamou-o tutor de resiliência; muito antes Bolwby chamou-o figura de apego.

Denominações a parte, a resiliência ganha hoje seu espaço na pesquisa em ciências humanas, médicas, sociais, administrativas etc.

Mas não se forma um mentor/tutor/figura de apego.

Não se pode dizer que alguém vai ser a partir de agora esse individuo que vai chegar para operar o milagre.

A resiliência é, na verdade, o resultado de intervenções de apoio, de otimismo, de dedicação e amor, idéias e conceitos que entram sorrateiramente nas ciências como causa e efeito, intervenção e resultado, hipótese e tese de que as relações intra e interhumanas são relações que ultrapassam o rigor do empirismo para encontrar o acaso.
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,com outro número e outra vontade de acreditar que daquipra diante vai ser diferente.”
Carlos Drumond de Andrade
SEJA FLEXÍVEL PARA CONQUISTAR"

É UMA REGRA DE OURO.

PODE SER DIFÍCIL PRATICÁ-LA, MAS DEVEMOS TREINAR A NOSSA ÍNDOLE E EDUCAR A NOSSA MENTE NESSE SENTIDO. EM ALGUNS CASOS, É PREFERÍVEL APARENTAR IGNORÂNCIA OU MESMO PERDER UMA DISCUSSÃO.

QUALQUER POSSÍVEL HUMILHAÇÃO FICARÁ GRAVADA APENAS NA MENTE E POR UM PERÍODO TEMPORÁRIO.

COM O PASSAR DO TEMPO, A OUTRA PESSOA PODE COMEÇAR A COMPREENDER A VERDADEIRA SITUAÇÃO E MUDAR DE ATITUDE. PODE-SE PENSAR: "EIS UMA PESSOA SINCERA", COMEÇA A ACREDITAR EM VOCÊ E ATÉ MESMO A ADMIRÁ-LO.

TENDO APARENTEMENTE VENCIDO UMA DISCUSSÃO, O SEU ADVERSÁRIO SE TORNA INSEGURO POR NÃO FAZER IDÉIA DO QUE VOCÊ TEM EM MENTE.

ASSIM O DERROTADO SE TORNA VENCEDOR E É POR ISSO QUE, ÀS VEZES, É PREFERÍVEL DEIXAR QUE OS OUTROS PERSISTAM EM SUAS IDÉIAS.

TENTAR IMPOR AS NOSSAS OPINIÕES É UMA PSICOLOGIA INÁBIL. AINDA QUE ESTEJAMOS CERTOS, NÃO DEVEMOS DESNECESSARIAMANTE INSISTIR EM ARGUMENTOS A NOSSO FAVOR. APRENDENDO A CEDER EM DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS, ACABAREMOS VENCENDO, PORQUE NOS ATIVEMOS AO QUE É JUSTO E VERDADEIRO. (Mokiti Okada)
"As vezes esperamos atitudes que não temos.Esperamos um sonho que não sonhamos.Esperamos um amor que não damos.Esperamos muitas coisas em nossas vidas mas sem saber que a vida também espera muito de nós.Sendo assim, não espere. Faça por merecer."
A psicologia do dar a outra face

Quando Cristo queria mostrar a necessidade vital de tolerância nas relações sociais, ele não proferia inúmeras aulas sobre o assunto, mas novamente usava gestos surpreendentes. Ele dizia que, se alguém fosse agredido numa face, deveria oferecer a outra, e por diversas vezes ele deu a outra face a seus opositores, ou seja, não revidava quando o agrediam ou o ofendiam. Ele não se referia à face física que compromete a preservação da vida. Ele falava da face psicológica.

Se fizermos uma análise superficial, poderemos nos equivocar e crer que dar a outra face pode parecer uma atitude frágil e submissa. Todavia, cabe aqui a pergunta: Dar a outra face é sinal de fraqueza ou de força? Quando alguém dá a outra face, isso incomoda pouco ou muito uma pessoa agressiva e injusta? Se analisarmos a construção da inteligência, constataremos que dar a outra face não é sinal de fraqueza, mas de força e segurança. Só uma pessoa forte é capaz desse gesto. Só uma pessoa segura dos seus próprios valores é capaz de elogiar seu agressor. Quem dá a outra face não se esconde, não se intimida, mas enfrenta o outro com tranquilidade e segurança.

Quem dá a outra face e não tem medo do agressor, pois não se sente agredido por ele, nem tem medo de sua própria emoção, pois não é escravo dela. Além disso, nada perturba tanto uma pessoa agressiva como alguém lhe dar a outra face, não revidar sua agressividade com agressividade. Dar a outra face incomoda tanto, que é capaz de causar insônia no agressor. Nada incomoda tanto uma pessoa agressiva como o outro ter atitudes complacentes com ela. Dar a outra face é respeitar o outro, é procurar compreender os fundamentos da sua agressividade, é não usar a violência contra a violência, é não se sentir agredido diante das ofensas. Somente uma pessoa livre, segura e que não gravita em torno do que os outros pensam e falam dela é capaz de agir com tanta serenidade.

A psicologia do " dar a outra face" protege emocionalmente a pessoa agredida e , ao mesmo tempo, provoca a inteligência das pessoas violentas, estimulando-as a pensar e reciclar a própria violência.

Não deixe que o outro decida sobre o seu modo de agir.