quarta-feira, 6 de abril de 2011

Evangelho: Lucas (Lc 9, 51-62)

Evangelho: Lucas (Lc 9, 51-62)
“Eu te seguirei para onde quer que fores”
51 Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém 52e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para preparar hospedagem para Jesus. 53Mas os samaritanos não o receberam, pois Jesus dava a impressão de que ia a Jerusalém. 54Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?" 55Jesus, porém, voltou-se e repreendeu-os. 56E partiram pa¬ra outro povoado. 57Enquanto estavam caminhando, alguém na estrada disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores". 58Jesus lhe respondeu: “As ra¬posas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça". 59Jesus disse a outro: "Segue-me". Este respondeu: "Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai". 60Jesus respondeu: "Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o reino de Deus". 61Outro ainda lhe disse: "Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares". 62Jesus, porém, respondeu-lhe: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o reino de Deus". Palavra da Salvação!
Leitura paralela ao trecho de Lc 9, 57-62: Mt 8, 19-22 (Exigências da vocação apostólica)

Cristão é aquele que escolheu Cristo e o Segue

Em todas as religiões, os grandes mestres espirituais tiveram discípulo, assíduos a seu ensinamento e preocupados em conservar suas palavras. Na Bíblia também encontramos este fenômeno (1ª leitura), embora se configure de modo muito particular, pois o povo vive num regime de aliança e de fé. A aliança não se baseia em tradições de mestre a discípulo, mas em si mesma. Certamente o povo eleito tem necessidade de guias que o orientem na leitura de fé dos acontecimentos. Mas essa necessidade é provisória e os profetas muitas vezes predizem um futuro em que Deus mesmo ensinará aos corações, sem a mediação de mestres terrenos (Jr 31,31-34), e todos serão discípulos de Deus (Is 54,13).

Chamados a partilhar do destino de Jesus
Durante seu ministério, Jesus se apresenta como rabi, mestre, e reúne discípulos em torno de si. Para poder colaborar na missão divina do Messias, aquele que é chamado deve estar pronto a partilhar a vida e o destino de Jesus, reconhecendo-o e aceitando-o como uma forma pessoal de vida. Não se trata, pois, tanto de aderir a uma doutrina, mas de segui4o, ligar-se a sua pessoa para sempre. A vida em comum com o "Mestre" transforma o "discípulo" em auxiliar de Jesus, prepara-o para sua tarefa e o põe em condições de difundir, com poderes divinos, o apelo de Deus a Israel... Os Doze, enquanto representantes da estirpe de Israel, desempenham outra função: são expressão viva do apelo messiânico dirigido por Jesus a todo Israel. O ato de seguir representa para eles, de certo modo, uma profissão. Para isso devem abandonar aquela que exerciam anteriormente.

Deixar tudo para segui-lo
Os sinóticos, narrando os encontros históricos de Jesus com os que ele convida a segui-lo, fazem um apelo vivo aos cristãos. Lucas, por exemplo (evangelho), deixa anônimos os interpelados e não transcreve sua resposta; a intenção do evangelista e da tradição é que cada homem se sinta chamado, dê resposta, tome de¬cisão.
Assim, por um lado, Lucas, ligando o chamado dos discípulos ao Antigo Testamento, com referências literárias muito claras, diz que Jesus "cumpre" as Escrituras (é o Messias); por outro lado, com as sagazes observações acima indicadas, apresenta os encontros históricos com Jesus como "profecias" que esperam ser cumpridas nos cristãos.
Esses é que são os discípulos do Cristo Ressuscitado e o encontram na palavra, nos sacramentos, no próximo.
Todo cristão deve seguir Jesus no desprendimento dos bens materiais, para ser livre e disponível, no desprezo de tudo o que é mal, e, enfim, na recusa a todo apego ao passado (Fl 3,12-14).

Crer nele e a ele aderir
Para João, o que define o discípulo de Jesus é explicitamente a fé (Jo 1,41; 2,1-11; 6,6-7). Sem a fé, até a convivência terrena com Jesus terá fim rapidamente. Um caminhar com Jesus baseado unicamente em motivos humanos, leva fatalmente à catástrofe da defecção (Jo 6,66). Esta fé tem seu teste no amor fraterno, característica distintiva dos discípulos e verdadeiro sinal "revelador" para o mundo (Jo 13,l4ss). Mas o elemento específico da relação do discípulo com Cristo, que a torna diferente de qualquer outra relação entre mestre e discípulo, é uma adesão absoluta, incondicional e definitiva à pessoa do Cristo. Nenhum valor, lei ou relação humana, por mais estreita que seja, pode ser anteposta a ele. Ele se coloca como significado total da vida. Não é tanto a aceitação de uma doutrina abstrata que pede, mas a opção por sua pessoa. Podem-se colecionar e valorizar as ideias dos grandes pensadores, sem absoluta¬mente interessar-se pela pessoa do autor...
"Cristão é aquele que escolheu Cristo e o segue. Nesta decisão fundamental por Jesus Cristo está contida e compreendida qualquer outra exigência de conhecimento e de ação pela fé". A adesão incondicional à pessoa de Jesus, a obediência absoluta a ele é ato libertador. Quem segue o Cristo é verdadeiramente homem livre, sem patrões. Um homem livre da escravidão das coisas, do poder, do dinheiro, do sexo, livre sobretudo de si mesmo. [MISSAL DOMINICAL, Missal da Assembleia Cristã, pgs. 1156-1157, Paulus, 1995]

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